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Ciência & Tecnologia
Computação Positiva, Data Mining & Saúde Mental 
Digital social media

A teoria da Computação Positiva tem sido desenvolvida para repensar a potencialidade das tecnologias como ferramenta no auxílio do desenvolvimento pessoal dos utilizadores. Aplicações de saúde mental e o uso da realidade virtual são alguns exemplos. As redes sociais também podem ser usadas na melhoria do bem-estar psicológico dos utilizadores apesar disso não ser óbvio.

Muito se tem debatido sobre os efeitos nocivos das redes sociais: são consideradas viciantes e apresentam uma visão superficial e idealista da vivência de outros utilizadores, levando a uma falsa impressão de que os “outros” levam vidas muito mais felizes e significativas, o que também está correlacionado com o aumento da insatisfação com a própria vida e até sentimentos depressivos.

Contudo, as redes sociais podem contribuir para medir dados relativos à depressão, stress e ansiedade, bem como para captar estados mentais potencialmente negativos dos usuários. Como? É imensa a quantidade de dados que os usuários deixam através de publicações, comentários, partilhas, mensagens etc. Esse volume de informação pode ser utilizado para analisar as formas de interação social e a linguagem utilizadas, de modo a captar indícios de depressão, ansiedade e outros distúrbios.

Um estudo realizado com Posts de mais de 600 usuários do Twitter, recolhidos no Estados Unidos, tratou de averiguar indícios de depressão na qualidade e quantidade de interação desses utilizadotres (frequência de tweets, respostas, compartilhamentos ao longo do dia e em diferentes períodos do ano), bem como através da linguagem utilizada (palavras-chave relacionadas a emoções positivas ou negativas).

Termos recorrentes em tweets indicativos de depressão e tweets habituais Fonte: De Choudhury et al. (2013)

Este processo de recolha e análise de dados é chamado mining (“mineração”); os resultados do mining desse estudo indicam que tweets indicativos de depressão tendem a enfatizar o uso da primeira pessoa (“eu”) e utilizar mais termos relativos a estados psicológicos, bem como emoções e palavras mais negativas, como se pode verificar na tabela acima.

Embora o número de Posts analisado no estudo referido seja baixo (600), em termos demográficos, os resultados corroboraram pesquisas anteriores, segundo as quais as mulheres tendem a uma maior probabilidade de sofrer depressão do que homens. Contudo, a discrepância entre os géneros não foi tão grande no indício de risco depressivo.

Em termos temporais, o período noturno tende a correlacionar positivamente com sinais de depressão e o período diurno correlaciona negativamente. De maneira similar, o outono e principalmente o inverno sugerem um aumento no risco do que as demais estações.

O estudo elabora metodologias quantitativas e qualitativas para uma previsão de depressão através da recolha e análise de dados. Há limitações na abordagem, como o já referido número de posts analisados e o  facto de não considerar, além do Twitter, outras redes sociais e mecânismos de busca. Também a questão da privacidade dos utilizadores e o método de armazenamento de dados devem ser discutidos nesse contexto; levantam-se questões de ordem ética.

Ainda assim, existem potencialidades no mining de dados das redes sociais, no sentido de possibilitar uma detecção inicial desses estados psicológicos negativos, idealmente ainda num nível leve ou moderado.

Outro estudo mais recente sugere como smartwatches e aparelhos similares poderiam detectar esses indícios, através do mining de dados abrangentes, em particular: sinais biológicos como frequência cardíaca, temperatura corporal, ritmo do sono; sensores de movimento, indicativos da distância e tempo de movimento; e parâmetros como o uso de aplicações, mecânismos de busca e das próprias redes sociais.

Se a coleta desses dados, dentro de uma análise contextual, indicasse indícios de stress, ansiedade, depressão etc., o aparelho enviaria notificações e alarmes e sugeriria programas para mudar padrões de pensamento, atitudes e comportamentos. Contudo, essa proposta ainda se encontra no plano teórico da Computação Positiva, embora alguns programas já façam parte do exposto.

Como exemplos práticos dessa tendência, em 2018 o governo de Ottawa lançou um projeto que utiliza AI para identificar sinais de tendências suicidas em redes sociais.  

Dentro do contexto português, políticas públicas e iniciativas privadas são necessárias nesse sentido. O País muito poderia beneficiar com iniciativas similares, dado que Portugal apresenta a segunda maior incidência de perturbações mentais dentro do contexto europeu, atrás apenas da Irlanda do Norte, quadro esse que veio a ser apenas agravado com a pandemia. Deixamos aqui três estudos recentes do Retrato de Portugal quanto à Saúde Mental:

“According to the Society of Psychiatry and Mental Health (in Portuguese), Portugal has Europe’s second-highest prevalence of psychiatric illnesses (22.9%). In addition to this, further studies show that around 57% of the Portuguese population presents some psychological distress. Indeed, mental health disorders surpass oncological diseases in the country, accounting for 11.8% of identified disorders in Portugal.”

Os estudos antes e pós pandemia, continuam a reafirmar tal tendência:

 A Saúde Mental em Portugal: Um breve retrato Um Breve Retrato Epedimologico do Observatório Nacional da Luta contra a Pobreza (2019- pré-pandemia).

Country Profile Data and Template_FINAL_09.02.22_Portugal.xlsx (who.int)

Mental healthcare in Portugal: support, options, and more | Expatica 6.10.2022

E perguntamos: se o retrato do país é este e apenas reporta os casos identificados, apesar das questões éticas e da falta de legislação e controlo das redes sociais, não terá a computação positiva, o data mining & big Data um papel preponderante a desempenhar no nosso país?

Esta é uma área controversa, a nossa intenção com este artigo é fazer entender que todas as áreas podem e devem contribuir para a saúde mental do nosso país e que algumas destas áreas ainda nem foram chamadas para o efeito.

A Associação Nacional para a Saúde Mental - AlertaMente  está efetivamente à procura de parcerias neste âmbito. Estamos de braços abertos!  

-Outubro 2022

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