Saúde Mental em Tempo de Eleições (Legislativas)
O Impacto das Eleições na Saúde Mental e vice-versa
Os fatores que facilitam o ambiente social e a saúde são variados e vão muito além dos cuidados médicos.
A política tem “uma mão na maioria dos fatores, de uma maneira ou de outra. "Quase tudo o que experimentamos é tocado pelo governo", diz Barry Burden, professor de ciência política e diretor do Centro de Pesquisa de Eleições da Universidade de Wisconsin (UW)- Madison nos EUA. “Estradas, ar, impostos, medicamentos, filmes, custo de livros didáticos e o limite de velocidade do ciclomotor são alguns exemplos.” Embora possam não afetar imediatamente a biologia individual, estes afetam o ambiente social em que nos encontramos, afetando posteriormente o nosso estado de saúde. Tom Oliver, professor de ciências da saúde da população na Faculdade de Medicina e Saúde Pública da UW, diz: "de maneira geral, a maneira como melhoramos a saúde pública tem que vir de muitas áreas e precisamos olhar para além dos cuidados de saúde"
Os impactos da votação e das decisões políticas afetam quase todas as facetas da vida quotidiana, da segurança, à habitação, à educação e até à nossa saúde. Contamos com programas governamentais o tempo todo", diz Chris Wells, professor associado da Escola de Jornalismo e Comunicação de Massa que estuda a participação política entre os jovens. "Tanto é assim que muitas vezes os tomamos como garantidos."
A relação entre saúde e votação é bem pesquisada e recíproca. "Pesquisas mostram que quanto mais saudável você é, maior é a probabilidade de votar", diz Burden. Por sua vez, também há pesquisas que mostram que o voto pode realmente tornar as pessoas mais saudáveis. "Quando uma pessoa está envolvida com a vida cívica, é social, eficaz e participante", diz Burden.
Depressão e Participação Política
A depressão é um fenómeno político, na medida em que tem fontes e consequências políticas. A depressão reduz a participação. Os indivíduos com depressão não têm motivação e capacidade física para votar e de se envolverem em outras formas de participação política devido a problemas somáticos e sentimentos de desesperança e apatia. Análises, usando dados transversais e longitudinais, mostram que a participação dos eleitores e outras formas de participação diminuem à medida que a gravidade do humor deprimido aumenta. Essas descobertas são discutidas à luz dos direitos da deficiência e dos possíveis esforços para aumentar a participação desse grupo.
A depressão tem sido tipicamente definida em termos dos seus componentes psicológicos e, em menor grau, dos seus componentes sociais. Mas a depressão também pode ser um fenómeno político? Existem várias razões para acreditar que é assim. Primeiro, as fontes de depressão podem ser políticas, pelo menos em parte. O Cirurgião Geral relatou que o principal problema da depressão é a distribuição inadequada do tratamento, e não a falta de tratamento efetivo (Goldman 2000). Os problemas de distribuição são principalmente políticos e económicos. A segunda razão para acreditar que a depressão pode ser um fenómeno político é que tem consequências políticas. Os indivíduos com depressão são menos propensos a participar da política do que os indivíduos sem depressão. A identificação de uma lacuna na participação da depressão soma-se a um crescente corpo de pesquisa que mostra que indivíduos com problemas de saúde e deficiências físicas e mentais têm uma voz desigual no processo político (Schur et al. 2002, Schur & Adya 2013, Pacheco & Fletcher 2014) Também levanta questões sobre outras consequências políticas da depressão. Os indivíduos com depressão são menos confiantes, menos eficazes ou menos interessados em política? Os indivíduos com depressão têm atitudes distintas daqueles sem depressão? O fato das fontes e das consequências da depressão terem contornos políticos é ainda mais ampliado pelo fato da depressão e seu tratamento serem distribuídos de maneiras sociais e políticas - mulheres, minorias raciais e pobres têm maior probabilidade de relatar sintomas de depressão (Accortt, Freeman & Allen 2008, González et al., 2010).
Em outras palavras, indivíduos de grupos politicamente sub-representados sofrem desproporcionalmente de depressão, pelo menos em parte devido a barreiras ao tratamento que estão parcialmente enraizadas na política. A depressão facilita e reforça as desigualdades políticas existentes em termos de género, raça e classe. De fato, é difícil concluir que a depressão não é um problema político premente quando quase um quinto dos americanos, muitas vezes de origem desfavorecida, relatam sofrer depressão em algum momento de suas vidas.
Agradecemos esta Investigação/ Scientific Paper ao Prof. Dr. Christopher Ojeda Pennsylvania State University;
Corresponding Author: Ph.D. Candidate, The Pennsylvania State University, Department of Political Science, da Universidade da Pensilvânia nos EUA, a investigação completa pode ser lida aqui.
Reportando a Portugal lançamos o repto: Qual a correlação entre a Depressão e a Abstenção?
Este será um dos próximos temas a ser investigado pela AlertaMente, pelo que de momento estamos dedicados à Investigação em Saúde Mental e Território: The role of communities engaging municipalities for the endogenous development of mental health and well-being policies; on the WHO's Portuguese healthy cities network, em conjunto com membros do conselho executivo da AlertaMente, o centro de Investigação do Centro Universitário de Lisboa- ISCTE e a Universidade de British Columbia – UBC, Canadá.
Participação Cívica pode Melhorar a Saúde Mental
A participação na vida cívica é uma maneira de melhorar o bem-estar social. Sentimentos de conexão e pertença mudam a maneira como os indivíduos interagem com o mundo ao seu redor. A importância de participar na vida comunitária em relação à saúde. A conexão social é realmente importante para a saúde física (ao saírem já estão a promover alguma forma de exercício, nem que seja andar) e muito mais para a saúde mental, pois o capital social relaciona-se com um ideal subjacente que pode determinar o status da saúde (o relacionar-se com os outros, estar inserido na comunidade, ao não estar isolado mas sim participativo e ativo promove a saúde mental).
O Modelo Social Ecológico de Saúde é uma maneira de visualizar essa ideia. O modelo sugere que a saúde de um indivíduo é determinada não apenas por sua biologia e escolhas individuais, mas também pela comunidade em que vive, pelos sistemas com que interage e pelas normas sociais que moldam as suas realidades. "A saúde começa com os genes que herdamos dos nossos seus pais, mas desenvolve-se manifestando a forma como você é afetado pelo seu ambiente social", diz Tom Oliver, professor de ciências da saúde da população na Faculdade de Medicina e Saúde Pública da UW .
The Social Ecological Model. Image credit: Centers for Disease Control and Prevention CDC.gov
Em Portugal, a AlertaMente tem vindo a assistir a um envolvimento cada vez maior por parte de partidos políticos no âmbito da saúde mental. Podemos afirmar que a AlertaMente teve a oportunidade de contribuir com o seu conhecimento, ideias e recomendações para vários partidos, posicionados em sítios distintos no panorama político, pelo que auferimos que a saúde mental começa a ser um tema com importância política Nacional e transversal a todos, da esquerda à direita. De notar que tais recomendações são na sua maioria advindas da sociedade civil através da participação nos nossos exercícios de Policy Making, tendo sido o último no Instituto Universitário de Lisboa- ISCTE no dia 21 Maio 19, partindo sempre de um ponto de vista social para o científico e político.
Como em todas as eleições, os cidadãos portugueses têm o poder de determinar os valores da sociedade em que continuaremos a viver, uma sociedade que afeta quase todas as facetas do nosso dia-a-dia, independentemente da sua visibilidade.
Temos que decidir para onde vamos como país- moral, económica e politicamente. E isso certamente tem um impacto no bem-estar. Muitas pessoas falam sobre o direito à saúde. Embora não possamos garantir isso, podemos apoiá-lo. Independentemente da aparência desse suporte, seja este direcionado à política de saúde ou de outra forma, as pessoas têm o poder de facilitar não apenas a sua saúde pessoal, mas também os determinantes ao redor deles que podem moldá-lo.
Mais uma vez, A AlertaMente reafirma que estamos dispostos a continuar a colaborar e a desenvolver esforços e contributos com todos aqueles que tenham a vontade de investir numa melhor Saúde Mental, assegurando o Bem-Estar e os índices de Felicidade. O que vem sendo cada vez mais crucial ou não estivesse previsto que a maior causa de incapacidade ao nível global em 2030 estará associada à doença mental, Organização Mundial de Saúde.
-Setembro 2019