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As noites

As noites. As noites, as manhãs e as tardes. Mas as noites, o entardecer, o anoitecer. Tudo parece um pouco mais lento. Tudo parece se estar a preparar para uma noite de descanso. Exceto eu. Olho para a janela, olho as estrelas numa noite cheia de nuvens, olho para a Lua quando ela se esconde por entre as árvores. A minha mente salta entre as estrelas e a Lua. Salta entre a escuridão e a pequena luz que ilumina a minha sala. Salta entre a terra e o céu. A minha mente salta. Por entre as folhas das árvores, os meus pensamentos fogem e entorpecem a minha capacidade de estar consciente. A minha mente continua a saltar.





O Sol esconde-se e as imagens aparecem, o cansaço apodera-se de mim, a tristeza embrulha-se no meu coração. O Sol esconde-se e tudo parece escuro, tudo está escuro… lá fora e cá dentro. Lá fora, do corpo, cá dentro, da mente. Depois de um dia a tentar fazer pequenas tarefas para exercitar o meu corpo a reagir, a tentar ler algumas notícias para tentar treinar a leitura, a tentar escrever para melhorar o pensamento, os pensamentos em corrida aparecem, atropelam-se, consomem o resto das minhas energias. São poucas.


O meu corpo cai, não se deixa cair. Resiste. A mente segue a uma velocidade difícil de acompanhar misturada com períodos de ausência, de vazio. As memórias, as vivências, as preocupações… tudo o que é possível e impossível imaginar aparece. Deixa o seu rasto de tormento, deixa o seu rasto de dor. Um rasto que dura e perdura… um rasto que fica. Um rasto que me acompanha noite dentro. Seria mais fácil dormir, dormir logo… deitar e esconder-me debaixo dos lençóis. Dormir logo… vencida pelo cansaço e pela medicação.


Sempre adorei a noite, foi sempre neste período que fiz as minhas produções extra escola, extra trabalho. Foi sempre neste período que ativamente estava e vivenciava a felicidade. Foi sempre um período criativo, um período de reflexão do dia. Hoje? Um suplício. Uma eterna vontade de que não existisse noites ou, então, que o dormir durasse para sempre. Sem acordar não posso vivenciar a noite… logo, teria vantagens.


A noite angústia-me A noite amedronta-me A noite provoca-me A noite entristece-me A noite perdura…


Olho lá para fora, pouco vejo, nem a mim própria. Olho lá para fora, só a sombra da noite. Olho lá para fora, só a Lua e as estrelas.


Cansada, é neste momento que tudo vacila, tudo parece não ter alicerces, tudo parece volátil. Cansada, é neste momento que a fragilidade mais aparece.


A música acompanha-me e marca o passo. É assim que deixo o tempo passar, é assim que deixo o tempo marcar o seu ritmo, é assim que contabilizo quantos minutos faltam. Minutos que faltam para adormecer e deixar-me levar pelas ondas e pelas marés. Minutos que faltam para acordar e deixar-me chegar pelo vento e pelos tornados.


Minuto a minuto, a inocência de quem só quer paz. Minuto a minuto, a resiliência de quem procura não desaparecer a cada noite. Minuto a minuto, a resistência de existir num limbo entre a realidade e o sonho.


As noites. As noites, as manhãs e as tardes. Mas as noites, o entardecer, o anoitecer. Tudo parece um pouco mais lento.


Exceto eu.


Dani



Texto originalmente publicado a 13 Novembro 2019: http://www.overdestiny.com/as-noites/

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